Farmacêuticos Millennials: atuação no manejo da dor
Fonte: Assessoria de Comunicação / CRF-PR
Data de publicação: 4 de junho de 2019
Nascida em meio à tecnologia, a nova geração de farmacêuticos trouxe um novo modo de pensar e agir,
transformando conceitos e premissas da profissão milenar
A Geração Millenium – ou Geração Y – vem modificando e transformando o ambiente de trabalho, formas de se relacionar e o modo como empresas e marcas interagem nos mais diversos setores da sociedade. Nascidos em meados da década de 80 e já imersos no mundo da internet, os Millennials foram criados em ambientes que motivaram sua capacidade de questionamento e instituíram valores como a diversidade e respeito.
Trata-se de uma geração oriunda de uma revolução cibernética que propiciou a facilidade aos diversos meios eletrônicos e novos formatos de comunicação. De acordo com McCrindle, um entusiasta do assunto e autor do famoso livro New Generations at Work, (novas gerações de trabalho) esse grupo de pessoas é caracterizado pela alta capacidade de interação, por ter nascido em um berço tecnológico e digital e ser uma geração intensa e rápida, onde diversão e prazer são fatores primordiais para viver, inclusive na escolha de uma profissão ou desenvolvimento de alguma atividade.
Nos últimos anos, os Milleniuns começaram a chegar ao mercado de trabalho, inclusive na área da saúde. Como é natural, trouxeram com suas formações acadêmicas novas características tecnológicas e empreendedoras, originárias dos novos currículos das graduações em Farmácia. Profissionais aplicados, ambiciosos e comprometidos em realizar um impacto positivo no espaço em que trabalham e na sociedade em geral preencheram vagas em diversas área farmacêuticas, ampliando, inclusive, os âmbitos de atuação e a forma do profissional ser visto pela sociedade.
Para destacar o esforço e trabalho referência exercido por esses profissionais no Paraná, a “O Farmacêutico em Revista” estreia, nesta edição, uma nova editoria para propagar o trabalho de jovens talentos farmacêuticos, suas áreas de atuação e as novidades do mercado de trabalho. Dra. Caroline Mensor Folchini é um exemplo de profissional Millenium e é a primeira participante do “Farmacêuticos Millenials”.
Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HCUFPR, Dra. Caroline exerce atividade no Instituto de Neurologia de Curitiba (INC) e atua, principalmente, no manejo da dor. Visto que a primeira linha de tratamento da dor é a terapêutica farmacológica e o farmacêutico é o especialista do medicamento, a atuação deste profissional é, sem dúvidas, fundamental. A farmacêutica, com apenas 28 anos de idade, percebeu este nicho no mercado de trabalho no início da sua carreira e decidiu focar sua atividade no estudo da dor crônica. Sua motivação sempre foi o contato com os pacientes e a assistência farmacêutica, e quando surgiu a oportunidade de realizar uma pesquisa clínica com enfoque na dor crônica, não pensou duas vezes e agarrou esta oportunidade.
Hoje, no INC, Dra. Caroline usa seus conhecimentos científicos para prestar um atendimento de excelência aos seus pacientes. “Dentro de um estabelecimento de tratamento hospitalar, o farmacêutico atua desfazendo crenças irracionais, desmistificando o uso das medicações e orientando sobre o uso racional do mesmo. Atualmente, desenvolvo atividades relacionadas à farmácia hospitalar, dispensação de medicamentos, auxílio na gestão do estoque e treinamentos, contribuo com conciliação medicamentosa e desenvolvimento de protocolos. Todos esses processos influenciam diretamente no tratamento da dor”, frisou Dra. Caroline.
Apesar já ter conquistado bastante em pouco tempo, Dra. Caroline não quer parar por aqui: seu objetivo é crescer ainda mais como pesquisadora. “Hoje percebo que meu sonho tomou forma. Ser cientista vai muito além de ficar em laboratório, é observar e sentir o que está acontecendo ao seu redor e, a partir disso, testar e replicar com metodologias científicas a comprovação da hipótese de sua observação”, destaca Dra. Caroline. Para seus planos para o futuro, a farmacêutica continuará “contribuindo para melhoria da qualidade de vida dos pacientes, difundindo maior informação/orientação tanto a eles, quanto aos profissionais de saúde, e focar nos estudos e pesquisas dentro da neurologia para agregar valor à profissão farmacêutica”.
Confira, a seguir, o artigo “A Importância do Manejo da Dor: uma abordagem farmacêutica”, produzido pela Dra. Caroline Mensor Folchini, e entenda um pouco mais sobre como a atividade do farmacêutico é primordial para o tratamento da dor crônica:
“A IMPORTÂNCIA DO MANEJO DA DOR: UMA ABORDAGEM FARMACÊUTICA" - Dra. Caroline Mensor Folchini
A dor foi e continua sendo uma das grandes preocupações da humanidade. Desde os primórdios da civilização, o ser humano procura esclarecer as razões que justificam a presença de dor e desenvolver procedimentos destinados ao seu controle.
A dor está presente em muitas doenças, no entanto, por si só, é capaz de provocar uma agressão intensa, o que resulta em uma série de consequências emocionais e cognitiva, afetando na sua qualidade de vida.
Segundo IASP, dor é considerado um “uma experiência sensorial ou emocional desagradável associada à lesão tecidual, real ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão”. Percebe-se que a dor não é apenas uma experiência puramente sensorial, pois apresenta um impacto emocional ao paciente.
A dor é um fenômeno complexo, existindo vários modelos envolvidos na sua explicação. A dor pode classificar-se pela a sua localização, pela patogênese, a duração ou a causa. No entanto, esta classificação não abrange a complexidade, a natureza multifatorial da dor.
Para que a dor seja classificada como crônica deve ser persistente por mais de três meses, sendo considerada com dor patológica, pois perduram além do tempo necessário para cura da lesão inicial.
Clinicamente, na dor podem distinguir-se quatro aspetos independentes: a nocicepção - processo de detecção, a percepção - modo como organismo recebe esse estímulo, o sofrimento - reação do organismo à nocicepção e o comportamento - representa as consequências pessoais e sociais da percepção e do sofrimento.
A dor crônica tem um grande efeito prejudicial na qualidade de vida dos pacientes, assim como na vida dos seus familiares; sem o tratamento adequado, os doentes são muitas vezes incapazes de trabalhar ou mesmo de executar tarefas simples.
Estudos epidemiológicos revelam que aproximadamente 80% da procura das pessoas pelos serviços de saúde são motivadas pela dor. No Brasil, a dor crônica acomete 30 a 40% dos brasileiros e constitui a principal causa de absenteísmo, licenças médicas, aposentadorias por doença, indenizações trabalhistas e baixa produtividade no trabalho, o que torna um problema de saúde pública.
No início dos anos 2000, a Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e a Sociedade Americana de Dor descrevem a dor como o quinto sinal vital. Assim, incluindo as intervenções para alívio da dor como parte do cuidado. É importante compreender seu significado e ampliar o campo de saberes acerca da importância de sua mensuração.
O paciente é ativamente questionado quanto à presença de dor e tem o direito a avaliação e gerenciamento da dor de forma apropriada. Neste contexto, a equipe multidisciplinar é o grande diferencial para o tratamento do paciente.
A equipe multidisciplinar tem importante papel na orientação do paciente, desfazendo crenças irracionais, desmistificando o uso das medicações e orientando sobre o uso racional do mesmo. Visto que a primeira linha de tratamento da dor é terapêutica farmacológica, e dado que o farmacêutico é o especialista do medicamento, faz todo o sentido a participação do farmacêutico, como profissional de saúde,
ao paciente e com certeza, com a inclusão deste profissional trará vantagens. Os cuidados farmacêuticos são uma prática centrada no doente, com foco na identificação, resolução e prevenção de problemas relacionados com a terapêutica.
É necessário um processo de assistência ao doente que compreende quatro etapas: avaliação das necessidades da terapêutica farmacológica, desenvolvimento de um plano de cuidados para atender a essas necessidades, implementação de um plano de cuidados farmacêuticos e avaliação e revisão do plano de cuidados. Os pacientes, ao beneficiarem da terapêutica adequada, terão também um impacto benéfico nas famílias e comunidade onde se inserem.
A colaboração e a integração do farmacêutico na equipa multidisciplinar de saúde que atende cada doente é um fator-chave, fornecendo o seu parecer, elaborado na perspectiva do medicamento, sempre que considere conveniente.
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