Riscos do uso incorreto de Zolpidem
Data de publicação: 25 de setembro de 2024
Hipnóticos da classe dos novos agonistas do receptor benzodiazepínico são conhecidos como “Fármacos Z” e incluem zolpidem, zopiclona e eszopiclona. Possuem propriedades sedativas semelhantes às dos benzodiazepínicos, embora não estejam estruturalmente relacionados.
Mecanismo de ação
Presume-se que exerçam seus efeitos através da ligação ao local benzodiazepínico da subunidade α-1 do complexo receptor GABA-A, aumentando a frequência da abertura de canais de cloro, resultando em inibição da excitação neuronal. A possível seletividade a essa subunidade, envolvida na regulação do sono, é responsável por menores propriedades ansiolítica, relaxante muscular e anticonvulsivante desses fármacos.
Uso terapêutico
Zolpidem é usado como hipnótico no tratamento por curto prazo de insônia (duas a seis semanas). O risco de abuso e dependência aumenta com a duração do tratamento.
Como possui um início de ação rápido, deve ser usado imediatamente antes de deitar. Sua duração de ação é de 6 a 8 horas, não deve ser readministrado durante a mesma noite.
As doses máximas diárias de zolpidem para adultos não devem exceder 10 mg (comprimido de liberação imediata ou sublingual) ou 12,5 mg (comprimido de liberação prolongada).
Riscos do uso
Quando utilizado em altas doses, zolpidem apresenta um efeito estimulante paradoxal, por conta disso tem sido utilizado de forma incorreta.
Porém, mesmo com doses terapêuticas foram relatados comportamentos complexos do sono, que podem resultar em ferimentos graves e/ou morte. Zolpidem deve ser descontinuado em pacientes que apresentem esses comportamentos.
Desde 2019, alertas destacados em caixa preta nas bulas – a mais forte advertência da agência norte-americana Food and Drug Administration – evidenciam sobre esses comportamentos complexos do sono relacionados uso de zolpidem.
Comportamentos complexos do sono: sonambulismo, dormir enquanto dirige e realizar outras atividades (fazer ligações telefônicas, preparar e comer alimentos) quando o indivíduo não está totalmente acordado, sem lembrar do evento. |
Podem acontecer tolerância e dependência física durante o uso por tempo prolongado e especialmente com doses muitos altas.
Sintomas de abstinência com a descontinuação abrupta do fármaco incluem convulsão, tremor, dores abdominais e musculares, vômitos, suor, disforia leve, insônia, choro incontrolado, ataque de pânico, nervosismo.
Principais interações medicamentosas que podem potencializar o efeito sedativo de zolpidem:
Medicamentos | Resultado |
Outros depressores do sistema nervoso central (álcool, benzodiazepínicos, opioides, anti-histamínicos sedativos, antidepressivos tricíclicos) | aumento do risco de depressão respiratória e do sistema nervoso central e do risco de comportamentos complexos do sono |
Inibidores da CYP3A* | aumento da exposição ao zolpidem e do risco para toxicidade |
*zolpidem é metabolizado principalmente pela isoenzima CYP3A4.
Orientações
Zolpidem pertence à lista B1 (substâncias psicotrópicas) da Portaria SVS/MS nº 344/1998, portanto, suas prescrições e dispensações só podem ser realizadas por meio da Notificação de Receita “B”, em cor azul, acompanhada da receita.
Embora o uso de zolpidem apresente riscos potenciais, a maioria das reações adversas não ocorre com muita frequência e, quando utilizado de forma correta e monitorada, pode trazer alívio significativo para o problema clínico.
Se não houver resposta quanto à insônia dentro de sete a 10 dias de uso do zolpidem, o paciente deve ser reavaliado para uma condição primária psiquiátrica ou física subjacente.
Caso o farmacêutico perceba o uso incorreto do fármaco por um paciente, é recomendado o contato com o prescritor para esclarecimento de eventuais dúvidas.
*Seu uso não é recomendado para pacientes pediátricos; não foram determinadas segurança e eficácia de zolpidem em crianças. |
Referências:
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